domingo, 2 de novembro de 2008

NOITE MÁGICA EM RECIFE

"O Teatro Mágico pára o Recife"!
Não foi essa a manchete em nenhum dos jornais no dia seguinte ao Show do grupo (ou trupe, como preferem ser chamados) de Osasco, estado de São Paulo, liderados por Fernando Anitelli. Mas afinal, juntar música com teatro, circo e literatura,não a torna mais atrante do que a mistura música + gostosas seminuas+ letras de decadência humana que domina as paradas e festas Pernambucanas. Bastante apropriado então que o primeiro CD deles chame-se "Só Para Raros" , e o DVD "Entrada para Raros". Os raros de Recife lotaram o teatro da Universidade Federal de PErnambuco, na noite de quinta-feira, 30 de outubro. Quem tinha sede de beleza e poesia ficou satisfeito, mas o cantor e compositor Anitelli lembrou aos locais que eles moram numa fonte, e louvou Pernambuco por todos seus rebentos ilustres e anônimos cuja arte desagua na cultura do Brasil. Tudo bem que isso é jogar pra torcida, mas é a mais pura verdade.



A mais mimada da noite foi uma bandeira de Pernambuco, presenteada a Fernando Anitelli quando convidou quem quisesse declamar um poema a subir ao palco. Renata e Camila atenderam ao chamado. Renata recitou de cor "Soneto de Fidelidade" de Vinícius de Moraes, muitíssimo ovacionada duas vezes: primeiro quando anunciou o poema, depois quando o concluiu. Já Camila escreveu um poema que era uma ode de amor de Pernambuco pelO Teatro Mágico e preferiu que Fernando o lê-se. Muito aplaudido o poema da rara Camila, que foi quem deu a bandeira do nosso estado de presente.

A partir daí, como já dito, só deu a bandeira: aplaudida quando presenteada e aberta por Fernando Anitelli, mais aplaudida quando posta por ele no pedestal do microfone, e super aplaudida quando o roadie percebeu que Fernando havia posto a bandeira de cabeça para baixo e consertou. Mais tarde o pedestal foi puxado para o fundo do palco, próximo ao tecladista Kleber Saraiva e, nos primeiros acordes de uma música, a bandeira escorrega do pedestal, Anitelli pára de tocar e vai ajeitar a bandeira: aplausos! Mais tarde o roadie mexe no microfone e derruba a bandeira. Dessa vez é que percebe e chama o roadie,que recoloca a bandeira em seu lugar de honra. Resultado: mais aplausos.À essa altura já estava decretado que sem a bandeira não tinha show!
Mesmo tendo entrado em cena com a torcida já toda a favor, O Teatro Mágico vai fazendo firula e convida ao palco um ilustre, ou melhor um raríssimo, aqui da terra: Silvério Pessoa! O músico pernambucano, que canta no segundo CD d'O Teatro Mágico, "Segundo Ato", a música "Abaçaiado" (que abriu o show depois de declamado o poema "Amadurecência"), cantou uma música de seu repertório e depois "Camarada D'Água" , recebida com um levante digno de um gol em final de campeonato.

Idealizador do projetO Teatro Mágico, o cantor, violonista e principal letrista, Fernando Anitelli poderia trazer toda a atenção para si, mas isso é intencionalmente dificultado quando a cada música roubam a cena personagens tão diferentes quanto um monstro de tiras de pano, outro monstro sobre pernas de pau com rostode metal, uma cuspidora de fogo, malabaristas, trapezistas, e outras facetas do talento de Gabriela Veiga, Rober Tosta e Mateus Bonassa, os atores/artista circenses, que formam O Teatro Mágico e tornam mágico o teatro. Sem esquecer o show de simpatia do percusssionista/malabarista Willians Marques, regendo a platéia com seu sorriso. Um espetáculo de luz, cores e poesia.

Pena notar que o público d'O Teatro Mágico não seja tão colorido. É bem mais fácil encontrar a juventude "de cor" numa fila da Caixa Econômica Federal recebendo o dinheiro de algum programa assistencial do governo federal, o que não ajuda essa gente bronzeada a mostrar seu valor.

A parte que cabe aO Teatro Mágico é sugerir o sonho e, ainda que o discurso de Anitelli não comece com o I have a dream (eu tenho um sonho...), em dado momento do show o recado é que O Teatro Mágico deve começar da porta do teatro pra fora, que não basta ter as músicas do teatro na ponta da língua e um poster no quarto e achar que isso é ter atitude. Trocando em miúdos é viver o que se diz,como na música "Zaluzejo" , que ele nem cantou nesse show, mas o recado foi dado: não é para se isolar na poesia, mas vivê-la! Foi vivido o sonho naquela noite de quinta-feira! E para que os raros sejam menos raros, passem a idéia adiante seguindo as instruções dadas no show: pirateiem O Teatro Mágico e distribuam!

2 comentários:

Thathy Vilella disse...

Oi!!!!Olha eu aqui,inaugurando os comentários ao seu texto!!!Que responsabildade!!!(rsrsrsrs).Mas falando sério agora,muito acertados seus argumentos;e eu diria mais:O Teatro Mágico é o mais pernambucano dos grupos musicais paulistas!!!!Parece até que são coisa nossa.O tipo de música/arte que eles fazem realmente vai de encontro a toda essa "poluição visual e sonora" que se vende hoje em dia chamando de música.Mas é mesmo lamentável ver que as pessoas que realmente poderiam aproveitar toda a arte do Teatro Mágico ainda ñ tenham acesso a ela;ou ñ queiram ter.Seja como for,é bom saber que ainda existe música de qualidade no meio de tanta porcaria;e melhor ainda saber que o nosso Estado é tão valorizado,mesmo que seja por quem ñ é daqui.Parabéns pelo texto!!!!Tá ÓTIMO mesmo!!!!Bjoooooooo

Thathy Vilella disse...

Oi!!Olha eu aqui de novo!!!!Já fiz um comentário antes,mas... ñ resisti!!!!!E agora que li o texto novamente,mas colorido e com as referências das fotos... resolvi comentar de novo!!!Afinal,fiquei mesmo com a sensação de que o primeiro comentário que fiz sobre o texto tinha ficado meio incompleto.Então,lá vai o complemento:"As fotos estão LINDAS!!!Agora sim,deu pra visualizar bem o que eu li.É uma pena que nós,NEGROS (e ñ "pessoas de cor",como alguns classificam),MAIORIA no nosso país,ainda ñ tenhamos acesso à verdadeira cultura da nossa terra,tão rica e bem divulgada e propagada pelo Teatro Mágico".E sabe de uma coisa?Se eu já tinha ficado curiosíssima em assistir a um show deles qdo fui apresentada às músicas,agora que vc falou do show... fiquei mais ainda!!!!Bjoooooooo