Corta para um exemplo interessante da sétima arte: no filme "Batman, o retorno" (Batman Returns, 1992), aquele em que Batman(Michael Keaton)enfrenta o Pingüim(Danny De Vito) e a Mulher-Gato (Michele Pfeiffer),há uma cena em que a Mulher-Gato ataca o Batman no telhado de um edifício. Depois de levar uns safanões bem dados da Mulher-Gato,Batman reage e desce o braço na garota. Percebendo que não é párea pro homem-morcego brigando no mano-a-mano, ela faz cara de coitadinha, e solta um "como você pode? eu sou uma mulher!". Batman se desculpa,baixa a guarda e estende a mão para ajudar a Mulher-Gato que dá uma pesada nele jogando-o pra fora do telhado.
"Cuidado! Mulheres não são cordeirinhos". Quem avisa amigo é, e foi uma amigA que alertou Candrel, que costumava se referir às mulheres como seres delicados, sinceros e compreeensivos. Sua amiga Priscila o alertou de quão distante da verdade estava. Candrel devia esquecer o discurso de mártir, que as colocavam como vítimas da insensatez masculina? Exatamente!
Pra entender a teoria há de se viver na prática? Candrel viveu: no casamento. Diante da insensatez feminina experimentou a lei que dizia que ele era culpado até que se provasse o contrário. Quando ficou claro o desequilibrio de sua companheira, encontrou quem tivesse pena dela: "é mais difícil para uma mulher", diziam.
Legalmente divorciado fazia uma semana Candrel comentou sua recém liberdade com uma colega de trabalho . "Coisa boa você não deve ter feito", foi o que ouviu.
"Homem não presta" e "é tudo igual" é o clichê mais enganoso aos ouvidos de Candrel, que chegou a se sentir preso num planeta em que os cordeiros pareciam ter um complô para dominar o mundo. Esse mundo emque existem regiões nas quais se cortam fora o clitóris das mulheres para que elas não sintam prazer nunca, e em grande parte desse mundo elas estão sempre a mercê das vontades, mandos e desmandos masculinos. Homens: esses animais cruéis e insensíveis educados por... mulheres!
A mãe de Candrel não teve o melhor marido do mundo, mas disse "as mulheres não deixam os homens serem pais! não querem que eles cuidem,não os educam pra isso!" . Entre o coro que jogava toda uma carga de crueldade nos ombros dos homens, era uma voz dissonante.
Como um sedento no meio do deserto do Sahara, Candrel encontrou um livro de Lya Luft, "O Rio do Meio". Escritora gaúcha, normalmente a descrevem como uma autora que fala de mulheres, de sua alma. Uma voz mais que sensata no meio dessa insensatez coletiva que nos ensina existir o sexo bom e o sexo mal, o sexo que cuida e o sexo que agride,o sexo que fica e o sexo que parte. Uma das possíveis conclusões que Candrel retirou do livro de Lya: não há lobos e cordeiras. Pelo menos eles não existem assim, divididos claramente por gênero. Lobos e cordeiras não procriam entre si. A amiga de Candrel o havia alertado,Candrel aprendeu e ficou feliz em ler no livro de Lya Luft que havia outras vozes destoando do coro. Não lamentou por um dia ter acreditado no clichê que hoje lhe soa tão ridículo.
Se até Batman que é tão esperto já se enganou...