terça-feira, 15 de setembro de 2009

ONDE COMEÇA E RECOMEÇA O MUNDO

Duas canções, entre as tantas eternizadas por Luiz Gonzaga, o saudoso rei do baião, talvez sejam as que mais tocam os nordestinos que deixaram suas terras em busca de melhores condições de vida e vivem saudosos onde quer que estejam: "Asa Branca" e "O Último Pau-de-arara". Pau-de-Arara, se alguém não sabe, é como são chamados os caminhões que ainda são usados para transportar clandestinamente os que fogem da seca do sertão, segurando-se nas grades de madeira da carroceria ou em armações feitas para esse fim, sendo assim comparados a araras empoleiradas. As canções "Asa Branca" e "O Último Pau-de-arara" tocam fundo principalmente na alma do sertanejo, mas também falam ao nordestinourbano, que se comove e também se identifica, na sua dura lida diária.Se "Asa Branca" fala de quem já foi e tem esperança de voltar quando o verde dos olhos da amada que deixou se espalhar na paisagem, "O ÚltimoPau-de-arara" fala de quem teima em ficar enquanto a sua vaquinha "tiver o couro e osso e aguentar com o chocalho pendurado no pescoço". Mesmo sem estar fugindo da fome ou da seca, ainda hoje muita gente migra para os centros urbanos almejando voos mais altos. O nordestino do interior vai para a capital, e o da capital vai para Sudeste, o "Sul Maravilha". Aqueles que mais trazem alegria ao povo, os atletas e os artistas também migram quando o talento já não cabe mais nas fronteiras delimitadas pelo coração. Quando a gente já não cabe nessas fronteiras, carrega-se no próprio coração um mundão inteiro enraizado nele.Como todos devem recordar, Herbert Vianna, vocalista, guitarrista e principal compositor da banda Os Paralamas do Sucesso, sofreu há alguns anos um acidente que lhe levou a esposa, os movimentos das pernas e quase lhe levou a vida. Herbert, que passou parte da sua juventude no Distrito Federal, e hoje está radicado no Rio de Janeiro, escolheu para seu retorno aos palcos, após um duro período de recuperação, iniciar a turnê pela cidade onde nasceu, João Pessoa, na Paraíba. O cantor e compositor Lenine, outro nordestino radicado no Rio de Janeiro, esse de Pernambuco, foi indagado em uma entrevista sobre os motivos de ele viver no Rio de Janeiro e não em Recife. "Recife é minha mãe, o Rio é minha mulher. Eu amo muito minha mãe, mas não vou deixar minha mulher pra morar com minha mãe".Pode-se viver fora com esperança de um dia voltar, como em "AsaBranca" ou teimar nunca largar a barra da saia da mãe, como em "O Último Pau-de-arara" , mas não é só assim que se ama sua terra. É saber onde se recomeça a jornada, como Herbert em sua João Pessoa. É estar feliz com a cidade que escolheu e ainda amar com todas as forças o ventre de Recife que lhe pariu. É como o verso do artista pernambucano Cícero Dias que está gravado no Marco Zero no porto da cidade de Recife:"Eu vi o mundo, ele começa em Recife".

Um comentário:

Lu disse...

Legal o que Lenine falou. Um dia ainda deixo "minha mãe" e encontro (no meu caso) o meu "marido". hehhe

Desculpa a ausência. Mas tô de volta a te acompanhar.