sexta-feira, 6 de março de 2009

POLÍCIA PARA QUEM PRECISA??

"Eu vejo todo mundo falar de paz. Mas ninguém fala de justiça. Enquanto não houver justiça nunca vai haver paz".Essa declaração de Samuel Rosa do grupo musical Skank (você já deve ter ouvido falar), passava em quase todo intervalo comercial da MTV. A justiça de que Samuel falou e foi repetido durante meses nos intervalos da MTV é justiça social. A justiça de que Samuel fala existiria se todas as pessoas tivessem as mesmas oportunidades e condições de acesso a saúde, educação, cultura, e de ser remunerado adequadamente para viver dignamente.Existindo essa justiça a polícia existiria apenas para os "desvios", os seres humanos que destoassem da perfeita ordem social.
Devo estar entendendo tudo errado. O exército subiu o morro no Rio de Janeiro para aplicar essa justiça social? Na primeira semana de fevereiro a polícia tomou Paraisópolis,comunidade pobre de Minas Gerais, depois de um protesto de moradores que culminou em quebra-quebra e (não dá pra negar) vandalismo. Foram levar justiça social àquela comunidade pobre numa região cercada por prédios de luxo?
Então faz sentido nosso tão alardeado "Pacto Pela Vida" das autoridades aqui em Pernambuco, pois a ênfase parece ser "mais polícia".


Nessa briga de cachorro grande temos dois discursos principais:
1- tratar "bandido como bandido" : botar a polícia pra cima (pra cima do morro, pra cima de quem vier)
2- atacar a raiz do problema melhorando a saúde, a educação, e as condições de moradia e trabalho.
Utilizando o "Pacto Pela Vida" para unir esses dois discursos com a polícia sendo a solução para todos os nossos problemas deve dar a seguinte equação: mais polícia + resolver raiz do problema = a polícia resolvendo todos os problemas com métodos próprios da polícia.
Polícia para a educação: policiais nos corredores das escolas públicas intimidando alunos que não prestem a devida atenção às aulas e aplicação de sessões de tortura em alunos com mal aproveitamento. Melhorariam os índices de qualidade de educação que envergonha o país diante da comunidade internacional. Não seriam necessários sistemas de cotas em Universidades públicas pois "Ah, não quer estudar, não?!!"
Polícia para a saúde: assim como nas escolas, a intimidação seria usada nos hospitais públicos para que apenas os casos mais graves recorressem ao sistema público de saúde. Grupos de extermínio, aqueles que não existem nas polícias, poderiam ajudar a liberar leitos para pacientes com mais chance de cura. Além da diminuição de faltas por motivo de doença no trabalho, o que seria um ganho para a economia do país, um povo mais saudável surgiria dessa seleção em que só os fortes sobreviveriam.
Polícia para moradia: o problema principal são os barracos que enfeiam nossas cidades, que são um problema até para o turismo. Em um primeiro momento a polícia faria sumir o excesso de barracos, o que serviria de incentivo para que os moradores dos barracos que sobrassem melhorassem suas moradias. Quanto aos moradores de rua a polícia cumpriria a lei tornando fato o que já é uma verdade legal:como há moradores de rua que legalmente não existem...
Polícia para emprego: o desempregado seria fichado na polícia como possível futuro marginal. Só quem realmente quisesse muito trabalhar estaria nas filas de desempregados pois policiais estariam nas agências de emprego indagando o porque de o sujeito estar há tanto tempo desocupado. Os fichados teriam que arranjar alguma fonte de renda informal para sobreviver e a polícia estaria vigiando que tipo de fonte seria essa.

A equação: mais polícia + resolver raiz do problema = a polícia resolvendo todos os problemas com métodos próprios da polícia. Há de se ter cuidado para não trocar o discurso truculento "tratar bandido como bandido" pelo "coitadinho do bandido" , mas enquanto houver esse absurdo abismo social vai haver o absurdo de se usar esse abismo social para justificar todos os crimes, e quanto mais o discurso do "a solução é mais polícia" se intensifica, mais a revolta de quem está cansado de apanhar vai parecer fazer sentido. As soluções da polícia resolvendo todos os problemas me parecem absurdas mas continua sendo a mais usada por quem é pago para pensar sobre o problema da violência e tem o poder de decidir soluções para o assunto.
Samuel Rosa não ganha a vida pensando em soluções para o problema da violência, ganha a vida criando canções para fazer o povo chacoalhar o corpo, divertir-se. Absurdo eu achar que o que ele diz sobre o assunto faz mais sentido do que os especialistas ?

Seja como for, polícia de que eu gosto mesmo é o THE POLICE, grupo inglês que voltou no ano passado de que falei no último artigo aqui do blog, e que influenciou os Paralamas do Sucesso. Ou então do tipo dessa policial loira da foto que encontrei na internet, que segundo diz é holandesa.

4 comentários:

Thathy Vilella disse...

Oi,Gatão!!!!

Concordo plenamente com as suas palavras. E mais ainda quando vejo os tremendos absurdos que a polícia comete "em nome da lei".

Afinal, que lei é essa, que "dá o direito" à polícia de sair por aí batendo, torturando e até matando quem eles "acham ou julgam" ser criminoso ou ter culpa?

Se eu ainda sei alguma coisa, quem julga e decide quem é ou não criminoso, culpado ou inocente é a justiça (personificada na figura do juiz togado) não é?

E por isso mesmo, a solução pra toda essa violência e desordem que a gente vê hoje é de fato eliminar o tal do abismo social; e a melhor - e única - forma de fazer isso, é o governo oferecer mais segurança pra população.

Mas isso não se consegue com mais polícia; e sim com mais EDUCAÇÃO, EMPREGO, MORADIA, MELHORES SALÁRIOS E OPORTUNIDADES pra todos.

E nem precisa ser um grande pensador pra saber isso; basta ser brasileiro. Parabéns pelo texto!!! Muito bom mesmo!!!

P.S: E espero pela sua coluna no Tauica amanhã!!! E por falar nisso... você já espalhou isso pra todo mundo? Porque se você não fez... FAÇO EU!!!!

Me chamo Otavio Garcia Gabrielli Junior. Prazer em conhecê-lo. disse...

eae companheiro!

cara, nem sei direito o que comentar sobre teu texto... simplesmente, MUITO bom! e eu concordo em gênero, número e grau!

me sinto muito a vontade para expressar minha opinião sobre esse assunto, pq sou filho e neto de delegados de polícia. agora, minha opinião é que NÃO devemos, NUNCA, SOB HIPÓTESE ALGUMA, confiar na polícia. já tive N experiências q me fizeram crer nesta idéia, e nem cabe eu ficar aqui relatando-as. mas o q quero registrar é q HÁ SIM uma parcela de culpa do governo: ora, como um policial, militar ou civil, vai estar disposto a cumprir sua VERDADEIRA obrigação (que é "servir e proteger") qdo ele ganha menos de R$ 1000 para colocar sua vida em risco? como um brigadiano pode exercer sua obrigação, se ele não tem formação nem escolar nem formação de treinamento mesmo para lidar com a população?

o resultado? estes milhões de casos de abuso de autoridade, prá ficar num exemplo só. esta semana, aqui no RS, CINQUENTA E NOVE brigadianos foram indiciados e expulsos da corporação por abuso de autoridade e por aceitar propina.

mais uma coisa: eu frequento, digamos assim, bairros ditos "barra-pesada" aqui em Porto Alegre. sendo sucinto, digo apenas q NUNCA fui assaltado nem molestado de forma alguma no meio da "bandidagem". é meio q "lugar comum", mas sempre vale lembrar: bandido tem código de honra, e o segue. o contrário da polícia.

MUITO bom mesmo o texto. continue sempre assim!

Abrazzo do ...Tauico!

Me chamo Otavio Garcia Gabrielli Junior. Prazer em conhecê-lo. disse...

p.s.: gurizada! não existe "tauica"... =P heheehhehe....
eu sou o

...Tauico!

primeiro e único, imperador de roma! huaeuhaehuaeuae

Abrazzo à todos!!!

=D

Unknown disse...

Oi André!!
Li seu artigo. Achei ótimo, gostei da maneira como tratou a questão da segurança pública. Queria apenas fazer algumas observações.
1) Segurança, constitucionalmente é dever do Estado e responsabilidades de TODOS, isso inclui a sociedade. Também temos a nossa parcela de culpa, por omissão ou pela reprodução da cultura da desigualdade.
2) Existe um forte movimento de criminalização da pobreza, e não há discussão sobre a origem dela, o que, em minha opinião, contribui muito para o aumento da desumanização das pessoas e explosão da violência.
3) O nosso plano estadual de segurança pública, o pacto pela vida, surgiu de maneira interessante. Apesar das limitações, criou mecanismos de escuta da sociedade civil. Esta escuta permitiu a inclusão no pacto de ações transversais e multidisclinares para apontar soluções para o problema da violência. Ele está estruturado em 6 linhas centrais, ais quais discutem:
projetos culturais, educacionais, de geração de emprego e renda para juventude, criação do conselho de segurança pública, capacitação de profissionais da educação e segurança para a observância dos direitos humanos e compreensão da diversidade. Criação de melhoria da infra estrutura de delegacias,capacitação para policiaise melhor remuneração para os profissionais da segurança entre muitas outras. Ou seja, um plano estratégico e interessante se não ficar apenas no aluguel de viaturas novas, e aumento do policiamento ostensivo.
Se não houver mobilização da sociedade pernambuca para realizar o controle social desse plano, pararemos nas duas medidas acima e deixaremos de avançar para parar os cerca de 4.500 homicídios anuais, de pessoas em sua maioria, pobres, negras, jovens, do sexo masculino e moradoras de espaços populares. Isso sem contar com as agressões, roubos, sequestros e etc. Bem, por fim, mesmo que todas as ações do pato pela vida estivessem sendo implementadas, (não estão) ainda nos restaria um longo e árduo caminho pela frente.

Parabéns pelo texto e pela iniciativa.

Edna Jatobá.